Na arena, o confronto, mas não uma batalha. O que se busca é a harmonia entre a força bruta e o equilíbrio. A adrenalina corre no sangue, o coração disparado, as mãos tremem. E na cabeça do peão só um pensamento: se equilibrar durante oito segundos.

Paulo Emílio é criador de boi de rodeio. "Essa é a tropa que a gente selecionou pro rodeio de Barretos", ele mostra. Eles vão estar na arena nas finais do rodeio. Tropa de ouro: só num curral, R$ 400 mil em touros.

Feras de quase uma tonelada, que tem alimentação especial e fazem exercício para desenvolver mais músculos. Silverado, cruza de Nelore com Europeu, é uma lenda. Ficou três anos e meio - 200 rodeios, sem que um peão agüentasse oito segundos sobre ele. Ele vale R$ 60 mil ou 200 bezerros.

O touro que cada peão vai montar é decidido em sorteio. Mas toda a fúria do touro não é só instinto selvagem. Uma correia é presa na parte de trás do animal. É o sedém, o gatilho que dispara o touro.

Quando abre a porteira a função de um dos peão é puxar a corda que aperta o sedém. A grande questão aqui é: sem o sedém o boi pula ou não pula? "Pula, só que pula facilitando a vida do peão. Só levanta a frente, não joga a anca", explica Adriano, responsável por puxar a corda.
           
           
O sedém é feito da crina do cavalo, ou do rabo do boi. Ao contrário do que muita gente acredita, não toca nos testículos do touro. "Não dói". Mas por que provoca uma reação tão forte nele? "Porque ele é chucro".

"Não tem como provar que não dói". O promotor Luís Henrique Paccagnella, da cidade de Jaboticabal, perto de Barretos, está convencido de que o sedém é um instrumento de tortura, e de que os rodeios são um ritual de maus tratos aos animais. Ele move 14 processos contra organizadores de rodeios. Outro, contra o professor e veterinário Orivaldo Tenório de Vasconcelos.

Uma pesquisa coordenada pelo professor, na Universidade do Estado, concluiu que o sedém é inofensivo. Mas o promotor discorda: "Se você pegar o testículo e der um tapinha assim, e fizer um exame de sêmen daqui a 32 horas, o sêmen está alterado, porque o testículo do boi é muito sensível".

"Touro na arena com cinco, 10 anos de rodeio, você faz um exame e o sêmen está normal", diz Orivaldo. O promotor suspeita do resultado da pesquisa porque o veterinário é membro honorário dos independentes - o clube que organiza o rodeio de Barretos, e financiou o estudo.

O único peão profissional da turma é um dos últimos representantes desse tempo. Ele já tocou boiada de Goiás até o Paraná. Foi ponteiro, o homem que guia a boiada, culatreiro, o homem que dá retaguarda, e capataz, o homem que dá as ordens. "E para tocar o berrante precisa ter peito, né? Precisa ter pulmão bom e dente natural, senão não toca", ensina seu Irio Lopes.
           


Dr. Orivaldo Tenório de Vasconcelos, Chefe do Departamento de Patologia Veterinária da UNESP-Jaboticabal

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