Delegada Ana Paula Rodrigues já fez o papel de vítima para prender um pedófilo
As
denúncias chegam por vários meios como o Disque Denúncia, Ministério
Público, vítimas, familiares ou até mesmo por investigações que partem
da própria 4ª Delegacia de Polícia de Repressão à Pedofilia, uma das que
compõem a Divisão de Proteção à Pessoa do DHPP (Departamento de
Homicídio e de Proteção à Pessoa).
Os casos são parecidos. A criança ou
adolescente aceita a solicitação de amizade virtual feita pelo criminoso
nas redes sociais, as conversas começam, os gostos são parecidos, o
envolvimento se inicia. A partir daí, a vítima já está nas mãos de um
pedófilo – sem saber – e, em pouco tempo, poderá ser persuadida a enviar
fotos sensuais ou marcar um encontro.
A delegada Ana Paula Rodrigues,
assistente da 4ª Delegacia do DHPP, já fez o papel de vítima para
prender um pedófilo. Depois de uma denúncia feita pelos pais de uma
menina de 13 anos, a delegada fingiu ser uma adolescente de 11 durante
vários dias.
As conversas aconteciam durante seu
horário de trabalho pelos computadores da própria delegacia. A confiança
do criminoso, de 45 anos, foi conquistada aos poucos devido à boa
desenvoltura de Ana Paula que, por várias vezes, desmarcava os encontros
alegando ter medo que “seus pais” descobrissem tudo.
O convencimento foi tanto que o
criminoso passou o número de seu celular. Mas o que ele não imaginava
era que a tal menina na verdade era a delegada queo prenderia dias
depois, a partir de informações conseguidas pelo número do telefone. “Os
crimes de pedofilia vem crescendo a cada dia. Hoje, as crianças passam
muito tempo na internet e por isso devem ser monitoradas pelos pais”,
afirmouAna Paula.
Ao contrário do que se imagina, o crime
de pedofilia existe mesmo quando não ocorre fisicamente. O aliciamento e
assédio praticado contra um jovem, até virtualmente, é considerado
crime. Todo caso que a polícia investiga, a vítima é sempre encaminhada
ao Hospital Pérola Byington para a realização de exames sexológicos que
possam servir como provas no Inquérito Policial.
Os criminosos
Segundo a delegada, quando os abusadores
são questionados sobre os motivos de uma atração por crianças e
adolescentes, as respostas são vagas e sem sentido. Na maioria das
vezes, giram em torno de respostas como “foi uma besteira” ou “sei lá
porque fiz isso”.
“A maioria dos pedófilos tem consciência
do que faz e não aparenta ter nenhum problema mental”, explica Ana
Paula, que se diz indignada por nunca ter recebido uma resposta
concreta.
As dificuldades para descobrir a
identidade do pedófilo são muitas, pois as informações passadas pelos
envolvidos geralmente não são suficientes. A maior parte dos crimes é
praticada por homens de 30 a 50 anos.
O criminoso pode estar mais perto do que
se imagina. A pedofilia pode acontecer dentro de casa, por isso, a
delegada ressalta a importância do diálogo e do controle por parte dos
pais. Nestes casos, as vítimas ficam com familiares próximos ou são
encaminhados ao Conselho Tutelar.
Vítimas
“As vítimas se sentem constrangidas e
culpadas pelo abuso. Uma das ocorrências mais marcantes que registrei
sobre pedofilia foi de uma menina de 6 anos que pedia para que as luzes
da delegacia fossem apagadas para que ela nos contasse as coisas que
aconteceram durante os abusos que sofreu”. A delegada
explica que, depois dos depoimentos, são feitos relatórios de
atendimentos psicológicos por uma das investigadoras da equipe, que é
psicopedagoga.
Dentro da sala da delegacia, existe uma
pequena brinquedoteca, o que facilita a naturalidade dos depoimentos das
crianças, já que elas se distraem com os objetos e assim acabam falando
sem perceber, sem que aquilo seja um incômodo.
“Já me emocionei muito com depoimentos
de crianças abusadas”, revela a delegada ao se lembrar do primeiro caso
que registrou na carreira e que era sobre pedofilia, no 67º Distrito
Policial (Jardim Robru). Na ocorrência, três meninas, uma de 4 anos,
outra de 6 e outra de 11, eram abusadas pelo avô materno, que embriagava
os pais das crianças. Os pais tinham problemas com bebidas e não sabiam
dos abusos, por isso, custaram a acreditar quando a delegada os
convocou para depor.
A delegacia
A 4ª Delegacia é composta por dois
delegados, o titular, Arlindo José Negrão Vaz e a delegada assistente
Ana Paula Aparecida Garcia Rodrigues, três escrivães, 10 investigadores,
um papiloscopista e três agentes policiais.
“Fazer parte do DHPP é um motivo de
honra e trabalhar nesta delegacia mais ainda. O nosso trabalho é muito
importante, pois funciona como uma forma de repressão à pedofilia”,
conclui Ana Paula.

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